Jornada
nas Estrelas (Star Trek) foi a primeira tentativa de fazer fic��o cient�fica
s�ria com personagens fixos da hist�ria da televis�o americana. Antes dela, uma
outra s�rie de fic��o j� fazia grande sucesso, "The Twilight Zone" (conhecida
no Brasil como "Al�m da Imagina��o"), mas era de natureza antol�gica -- uma cole��o
de hist�rias sem personagens fixos, exceto pelo apresentador (que era o pr�prio
criador da s�rie, Rod Serling). A id�ia b�sica por tr�s do seriado era
bem simples: as aventuras da galante tripula��o de uma nave espacial terrestre
nos confins do espa�o, em algum ponto do futuro (que acabou, posteriormente, sendo
definido como meados do s�culo 23). Os humanos estariam em situa��o muito melhor
que a atual, e a Terra seria um para�so, sem conflitos, guerras ou problemas sociais.
Restaria aos terr�queos apenas a busca pelo desconhecido, novos mundos e civiliza��es,
como forma de aprimorar ainda mais sua sociedade e seu conhecimento.
O conceito da s�rie foi desenvolvido no in�cio dos anos 60 por Gene Roddenberry,
um homem que conhecia bem as piores facetas da humanidade, tendo sido ex-piloto
de avi�es (militar e depois civil) e ex-policial. Seu sonho sempre foi o de se
tornar escritor, e come�ou a se realizar durante o per�odo em que esteve no Departamento
de Pol�cia de Los Angeles. Gene come�ou a escrever alguns roteiros policiais para
TV, usando sua experi�ncia pessoal como fonte de hist�rias, e o sucesso acabou
levando-o a deixar a pol�cia e a se tornar um conceituado escritor de televis�o,
eventualmente atingindo o status de potencial criador de pilotos para novas s�ries.
Jornada foi a segunda s�rie que Gene conseguiu vender (a primeira havia
sido o seriado policial "The Lieutenant", que durou apenas uma temporada).
O projeto foi comprado pela Desilu, um est�dio ent�o em fase de decad�ncia
depois do enorme sucesso obtido nos tempos de "I Love Lucy". O objetivo da empresa
era usar Jornada como uma forma de recuperar o prest�gio. Com um est�dio
j� convencido a trabalhar no projeto, Gene Roddenberry precisava vender a id�ia
a uma rede de televis�o, que bancaria a empreitada e exibiria o programa. Acabou
conseguindo convencer a NBC de que Jornada nas Estrelas era uma id�ia
realiz�vel, o que levou � produ��o de um piloto, em 1964. Esse primeiro
epis�dio, chamado hoje de "The Cage"
(embora o t�tulo da �poca fosse "The Menagerie", a Paramount decidiu
cham�-lo de "The Cage"
para n�o confundir com o epis�dio da S�rie Cl�ssica que ganhou o nome original
do piloto), tinha uma tripula��o atualmente pouco conhecida, encabe�ada pelo famoso
ator Jeffrey Hunter (protagonista do filme "Rei dos Reis", interpretando Jesus
Cristo) como o capit�o Christopher Pike. Do elenco que acabaria se fixando na
s�rie, apenas Leonard Nimoy, como o alien�gena Spock, estava presente.
Os executivos da NBC gostaram do piloto, mas acabaram recusando-o, ao alegar que
ele era inteligente demais para a supostamente med�ocre audi�ncia de televis�o.
Normalmente, quando um piloto � vetado pela rede, acaba o sonho de se realizar
a s�rie. Mas, num ato sem precedentes, a NBC, em vez de engavetar a id�ia, decidiu
encomendar um segundo piloto. Uma nova hist�ria foi produzida em 1965:
"Where No Man Has Gone Before".
Jeffrey Hunter e seu Pike, um dos poucos personagens n�o vetados pela NBC, n�o
quiseram retornar. William Shatner foi contratado para viver o novo capit�o, James
T. Kirk. Com mais a��o, o segundo piloto foi capaz de convencer a rede a encomendar
uma temporada. O primeiro ano da s�rie foi exibido em 1966-1967, destacando
as aventuras de uma nave da Frota Estelar em pleno s�culo 23, a USS Enterprise,
e sua tripula��o, composta por Kirk, Spock, o m�dico de bordo Leonard McCoy (DeForest
Kelley), o engenheiro Montgomery Scott (James Doohan), o timoneiro Sulu (George
Takei) e a oficial de comunica��es Uhura (Nichelle Nichols). O navegador russo
Pavel Chekov (Walter Koenig) s� iria se juntar � trupe na temporada seguinte.
 A s�rie
rapidamente recebeu aclama��o nos c�rculos da fic��o cient�fica e reuniu um grupo
de f�s fervorosos. Grandes escritores liter�rios do g�nero, como Harlan Ellison
e Theodore Sturgeon, redigiram epis�dios para a s�rie. Mas o programa falhou em
sua miss�o principal: arregimentar um p�blico grande o suficiente para manter
a exibi��o na NBC. Campanhas sucessivas de cartas dos f�s conseguiram sustentar
a s�rie por tr�s temporadas, mas em 1969 a NBC estava decidida a cancelar o projeto.
Um ano depois, o instituto Nielsen, respons�vel pelas medi��es de audi�ncia
da TV americana, iria mudar sua metodologia de trabalho, classificando a audi�ncia
de acordo com o tipo de p�blico que cada programa atingia. Com isso, a NBC fez
a infeliz descoberta de que o cancelamento de Jornada havia sido um erro:
o programa n�o tinha uma audi�ncia estupenda, mas atingia exatamente o p�blico
que a rede queria -- jovens adultos do sexo masculino, com bom poder aquisitivo.
Paralelamente, a Paramount Pictures (que havia comprado a Desilu em 1968
e dado continuidade � produ��o de Jornada) estava fazendo dinheiro vendendo os
epis�dios da s�rie para reprises em esta��es locais de TV em todos os EUA. Logo
ficou claro que Jornada nas Estrelas estava se tornando uma mania. Conven��es
come�aram a ser organizadas nos anos 1970, lotando audit�rios com pessoas �vidas
por rever seus epis�dios favoritos e ouvir as pessoas que fizeram parte da produ��o
do programa. A NBC come�ou a achar que precisava de algum modo reviver
Jornada nas Estrelas. E foi o que eles fizeram, quando chamaram Gene Roddenberry
para conversar. Discutiu-se rapidamente a possibilidade de restaurar o programa
original, mas a decis�o final foi de produzir uma s�rie de desenhos animados --
mais barata e voltada para o p�blico infantil. A S�rie
Animada decolou em 1973, produzido pelo est�dio Filmation, que mais tarde
faria cl�ssicos da anima��o televisiva como "He-Man" e "She-Ra", e exibido pela
NBC aos s�bados de manh�. Apesar das limita��es t�cnicas e da redu��o do tempo
dos epis�dios dos 51 minutos da �poca da s�rie filmada para apenas 23 minutos,
o programa mais uma vez se tornou sucesso de cr�tica. E, mais uma vez, n�o teve
p�blico suficiente para mant�-lo no ar. Os epis�dios claramente eram muito desenvoltos
para uma s�rie infantil. O desenho resistiu por duas temporadas e 22 epis�dios,
antes de ser cancelado.

Ainda assim, a Paramount viu em Jornada nas Estrelas um enorme potencial
para ganhar dinheiro -- e estava decidida a explorar totalmente aquela rec�m-descoberta
mina de ouro. Primeiro, os executivos pensaram em produzir um filme de baixo or�amento,
mas nenhum roteiro adequado acabou aparecendo. Depois decidiram recriar a s�rie
de televis�o com o mesmo elenco, mas novos cen�rios e valores de produ��o, numa
ousada tentativa de criar uma quarta rede nacional de televis�o (na �poca s� havia
tr�s, NBC, CBS e ABC). Sob a batuta do criador Gene Roddenberry, em 1977
treze roteiros chegaram a ser escritos para a nova s�rie, que se chamaria
Jornada nas Estrelas: Fase II (Star Trek: Phase II), antes que a Paramount
desistisse dos planos de criar uma rede de TV e transformasse o projeto em
"Jornada nas Estrelas: O Filme" ("Star Trek: The Motion Picture"). A produ��o,
tamb�m comandada por Gene Roddenberry, com dire��o do aclamado Robert Wise (o
mesmo diretor de "A Novi�a Rebelde" e "O Dia em que a Terra Parou"), estourou
todos os or�amentos e quase n�o terminou no prazo. Mas logo que estreou, em 1979,
tornou-se um enorme sucesso de bilheteria, levando o est�dio a imediatamente cogitar
uma continua��o. Uma coisa entretanto estava clara: Roddenberry n�o era
um bom produtor de cinema. Harve Bennett foi contratado para tomar as r�deas de
"Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan" ("Star Trek II: The Wrath of
Khan", de 1982), e o criador da s�rie foi convertido em mero consultor. Bennett
conseguiu economizar cada tost�o, fazendo o filme mais lucrativo da hist�ria da
franquia, e um dos mais aclamados pelo p�blico e pela cr�tica. O �nico sen�o era
a morte do personagem Spock, evento que causou in�meros protestos entre os f�s.
Mas a Paramount se sentiu muito feliz quando esses mesmos f�s "clamaram"
por "Jornada nas Estrelas III: � Procura de Spock" ("Star Trek III: The
Search for Spock", de 1984) para reviver o personagem. Como novidades, o filme
promovia a destrui��o da Enterprise e trazia Leonard Nimoy em sua estr�ia como
diretor de cinema.

Nimoy fez um bom trabalho e foi chamado de volta para dirigir "Jornada
nas Estrelas IV: A Volta Para Casa" ("Star Trek IV: The Voyage Home"), em
que Kirk e cia. voltam ao s�culo 20 para resgatar duas baleias para salvar a Terra
de uma sonda alien�gena que tentava fazer contato com os animais, j� extintos
no s�culo 23. O filme simplesmente se tornou a maior bilheteria nos EUA da hist�ria
dos filmes de Jornada, quando estreou, em 1986. A esta altura,
estava muito claro que Jornada nas Estrelas era uma mina de ouro praticamente
inesgot�vel para a Paramount. O est�dio resolveu ent�o inovar e aproveitar a comemora��o
dos 20 anos da s�rie original para anunciar a produ��o de um novo programa de
televis�o: Jornada nas Estrelas: A Nova Gera��o (Star
Trek: The Next Generation). Com uma nova tripula��o, encabe�ada pelo capit�o Jean-Luc
Picard (Patrick Stewart), o primeiro-oficial William Riker (Jonathan Frakes) e
o andr�ide Data (Brent Spiner), e uma nova Enterprise, viajando um s�culo depois
das viagens de Kirk e cia., Roddenberry foi chamado de volta � cadeira de comando
de uma s�rie de TV.

A Nova Gera��o estreou nos EUA em 1987, com uma outra inova��o: a
exibi��o em car�ter de syndication (a venda do programa diretamente �s esta��es
locais, sem uma rede nacional que o sustentasse). O sistema � bem comum para programas
que j� foram uma vez exibidos por uma rede, mas era totalmente inusitado produzir
epis�dios in�ditos de uma s�rie para serem exibidos nesse sistema. Apesar
disso, A Nova Gera��o foi um sucesso absoluto, arregimentando uma base
de audi�ncia bastante ampla e abrindo caminho para v�rios outros programas de
fic��o cient�fica que surgiriam depois, como "Arquivo-X", "Babylon 5", "Terra:
Conflito Final", "Farscape", "Andromeda" e outros. Enquanto isso, no
cinema as coisas continuavam bem. William Shatner teve sua chance de dirigir um
filme com "Jornada nas Estrelas V: A �ltima Fronteira" ("Star Trek V:
The Final Frontier"), em 1989, que, apesar do fraco resultado em termos de qualidade
e bilheteria, levou � derradeira aventura da s�rie original nas telonas, "Jornada
nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida" ("Star Trek VI: The Undiscovered Country"),
em 1991. No mundo da TV, A Nova Gera��o estava indo muito bem,
mas n�o seu criador. Gene Roddenberry estava com a sa�de cada vez mais debilitada,
e o produtor come�ou a transferir suas responsabilidades para Rick Berman. Em
1991, com a morte de Roddenberry e o fim da s�rie de filmes da s�rie original,
Berman assumiu o comando total da franquia, coordenando as produ��es de cinema
e TV. Preparando a transfer�ncia da tripula��o de A Nova Gera��o
para as telas de cinema, para assumir o lugar vago deixado pelos atores cl�ssicos,
Berman e a Paramount decidiram criar uma terceira s�rie de TV, com uma nova tripula��o.
Desta vez, entretanto, a a��o iria se passar a bordo de uma esta��o espacial nos
confins da gal�xia e tudo aconteceria na mesma �poca em que a turma da Nova
Gera��o vivia. Berman convocou o escritor Michael Piller, respons�vel
pela bem-sucedida cria��o de uma "cara" diferenciada para A Nova Gera��o
com rela��o ao seriado original, para desenvolver a s�rie com ele. Em 1993, o
projeto chegaria �s telinhas, com o nome de Jornada nas Estrelas:
Deep Space Nine (Star Trek: Deep Space Nine).

Pela primeira vez destacando um protagonista negro na hist�ria da franquia,
Deep Space Nine estreou com �ndices arrebatadores de audi�ncia (at� hoje
det�m o recorde em Jornada nas Estrelas, obtido com o piloto "Emissary"),
mas o fato de ter sido exibida enquanto A Nova Gera��o ainda estava no
ar acabou iniciando um processo de eros�o da audi�ncia. Em 1994,
A Nova Gera��o deixou as telinhas para imediatamente ter sua primeira aventura
no cinema. O filme "Jornada nas Estrelas: Generations" (Star Trek: Generations)
reuniu a tripula��o de Picard a James T. Kirk, em sua derradeira aventura. Apesar
do anticl�max do final, em que Kirk � morto, o filme foi bem-sucedido em pavimentar
o caminho para mais uma continua��o cinematogr�fica. Enquanto isso, a
Paramount resolveu tirar da gaveta aquele velho projeto de criar uma nova rede
de televis�o. Para tanto, o est�dio queria mais um seriado de Jornada
como carro-chefe. Em 1995, nascia Jornada nas Estrelas: Voyager
(Star Trek: Voyager), s�rie tamb�m ambientada em �poca contempor�nea � da
Nova Gera��o e que contava a hist�ria de uma nave, capitaneada por uma mulher,
atirada para o outro lado da gal�xia por uma for�a desconhecida. Isolada, sua
�nica miss�o passaria ser a de sobreviver e voltar para casa, o que deveria consumir
mais de 70 anos de viagem.

Diferentemente de A Nova Gera��o e Deep Space Nine, que eram
exibidas em regime de syndication, Voyager foi para essa nova rede da
Paramount, a UPN. A fraca infraestrutura da institui��o, entretanto, aliada ao
desgaste da marca Jornada nas Estrelas, saturada pelos in�meros produtos
e spin-offs, fizeram com que Voyager mostrasse um s�lido e constante decl�nio
na popularidade da franquia. No cinema, entretanto, as coisas ainda andavam
bem. Em 1996, chegava �s telonas a segunda aventura da Nova Gera��o,
"Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato" ("Star Trek: First Contact"). O
filme se tornou um espetacular sucesso de bilheteria, o que acabou conduzindo
a "Jornada nas Estrelas: Insurrei��o" ("Star Trek: Insurrection"), em
1998. Mas naquele ponto a marca j� estava desgastada demais para sustentar um
grande p�blico, e a qualidade tamb�m n�o ajudou. O décimo longa, "Nêmesis",
de 2002, seguiu o mesmo caminho e fracassou nas bilheterias. Apesar da
ladeira da franquia, tanto Deep Space Nine quanto Voyager atingiram
a marca da Nova Gera��o, tendo sete temporadas produzidas. Em 2001, era
hora de criar uma quinta s�rie com atores para substituir Voyager na UPN.
Nascia Enterprise, uma prequel que contava as aventuras
da primeira Enterprise, cem anos antes da nave de Kirk. Para comandar o elenco
foi contratado Scott Bakula, ator j� famoso por seu papel na s�rie sci-fi "Quantum
Leap".

A série durou 4 temporadas, sendo encerrada em maio de 2005. Durante
seus três primeiros anos, esteve um pouco perdida, preferindo enfocar mais
um assunto criado para a ocasião, como a Guerra Fria Temporal, ou um ataque
que quase dizimou a Terra efeutado pela raça Xindi. Porém, a partir
de sua quarta temporada, temas oriundos da Série Clássica
foram explorados e Enterprise se despediu com dignidade.
Após
o término de Enterprise, os fãs se encontram num hiato entre
produções que deverá durar alguns anos. É hora de
aproveitar para rever esses 40 anos de Jornada, sempre em busca de algo
que ainda não tenha sido totalmente explorado em seus mais de 700 episódios
e 10 filmes para cinema. |